Antes do Almoço

Na porta da geladeira,
um poema escrito
 antes do almoço.

Na sala, o marido espera.
Lê o jornal de domingo.

Nua/Lua

Nua/Lua
Nua,
minha alma salvou-se,
lendo poemas molhados
de lua.

Memórias do Canavial

Memórias do Canavial

As facas amoladas cortam os nós da cana,
decepam, acertam as linhas
e os traços das almas dentro das alvas.

Longe e perto,
ouvem o eco da morte.
Vestem destinos.
Cedo, chegam ao inferno.

As chamas devoram a pele e o tempo
nesse macabro cerimonial.

Na memória, asas brancas
encharcadas de chuva,
atoladas em lama e cinza.

A facas cortam e apagam
as vozes cansadas depois da ceia.

Viva

Amanhã talvez

quem sabe

daqui a pouco

a gente se vê.

Paisagens

Paisagens

Tudo cansa,
tudo passa,
tudo cansa
tudo.

Lúdicas
paisagens
passam.
Em silêncio
eu mudo

e passo
no pálido azul dos olhos
mirando mares.

 

Rio de Janeiro

Um Rio de Janeiro vindo
lá do alto do Corcovado,
amanheceu olímpico.

Os olhos de Olorum abençoaram
as moças de pernas lisas
a desfilar nas areias
e nas ruas de Ipanema.

Orixás ouvem o tumtumtum
dos tambores descendo os morros.

No olhar do Cristo
um doce Pão de Açúcar
com pitadas de sal
do mar de Copacabana.

Quitanices

Quitanices

A alma é feita de vento.
Não vemos suas cores.
Só dúvidas e alegrias
poucas.